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Prof. Dr. Luciano Simões Silva
A Voz do Profissional da Voz
Artigos | Currículo   

Vamos parar de falar do diafragma!


Quando recebo alunos novos de canto (ou mesmo quando alunos antigos voltam das férias), sempre vem uma observação de quem quer parecer que sabe do riscado: “tenho que mover o diafragma”, “a respiração mais saudável é a diafragmática”, “sei que tenho que prestar atenção no diafragma”, “vou cantar do diafragma” etc. Todos eles, em alguma parte de seu treinamento anterior ou mesmo vindo de um “interessado”, ouviram falar do diafragma e de sua importância dentro do processo respiratório. Mas a informação é muitas vezes desencontrada e confusa.

Ora, o diafragma é uma camada de músculos e tendões que separa o tórax do abdômen, que em posição relaxada parece uma bacia invertida. Esta forma vem de suas conexões com as costelas, esterno e a coluna vertebral. Quando se contrai, ele se torna plano, pressionando as vísceras para baixo, aumentado o volume do torso e criando espaço para que os pulmões se inflem de ar. Até aí tudo bem: é óbvio que sem um diafragma saudável não teremos uma boa respiração.

O problema vem do entendimento do nosso controle sobre essas ações e, portanto, da importância em se “prestar atenção ao diafragma”.

Primeiro, é necessário compreender que o diafragma é um músculo inspiratório, ou seja, ele se contrai na inspiração, e na expiração ele relaxa, portanto seu papel na expiração, tão importante para os profissionais da voz, é pequeno, pois se restringe à sua taxa de relaxamento versus tempo. Segundo e mais importante, o diafragma é um músculo involuntário, ou seja, não temos quase nenhuma vontade sobre ele: ele se movimenta como consequência de todo o movimento do torso, incluindo aí os músculos intercostais e abdominais. Portanto, pensar em mover o diafragma para respirar melhor é uma perda de tempo e de foco.

O termo “respiração diafragmática”, apesar de muito difundido inclusive entre os profissionais da voz, é enganador, já que faz pensar que o diafragma seja o responsável direto por tudo que acontece em um bom controle respiratório, diminuindo o papel dos músculos intercostais e dos abdominais (sem contar costais e peitorais). A respiração para o profissional da voz depende de um bom controle, e este controle deve ser feito onde é possível: abrindo-se as costelas e o abdômen, controlando-se a expiração através do relaxamento gradual dos abdominais e mantendo-se as costelas abertas, na medida do possível. Os termos que mais uso são “controle respiratório” e “gerenciamento da respiração”, termos criados pelo grande pedagogo e pesquisador vocal Richard Miller, e que evitam qualquer “localização” da respiração. Se tivermos mesmo que usar um termo para definir a respiração, eu prefiro “respiração costo-diafragmático-abdominal”, que divide as responsabilidades.

Independentemente dos termos usados, o importante é focar o trabalho muscular onde deve ser focado e parar de se preocupar com o diafragma. Ele está lá onde deve estar e trabalha sempre, queiramos ou não!









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