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Dr. Luis Felipe Ensina - CRM 86.758
Alergologista
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Alergia às penicilinas

Descoberta em 1928 por Alexander Fleming, a penicilina revolucionou o tratamento das doenças infecciosas e, por que não dizer da medicina, durante o século 20. No entanto, três anos após o início do seu uso como antibiótico em 1943, começaram os primeiros relatos de reações alérgicas, incluindo alguns casos fatais. A partir daí, a alergia à penicilina passou alvo de estudos freqüentes no campo da alergia/imunologia, e hoje, grande parte do conhecimento relacionado as alergias a medicamentos vêm dos modelos estudados com a penicilina.

As reações alérgicas a penicilina podem se apresentar das mais diferentes formas, imitando diversas doenças conhecidas. Apesar de ainda não conhecermos quais as razões que levam um indivíduo a ter reações, sabemos que os indivíduos alérgicos são capazes de produzir anticorpos e células específicas contra a penicilina. Dessa forma, podemos dizer que para determinados indivíduos a penicilina é vista pelo sistema imunológico como algo “perigoso” e que deve ser combatido.

As manifestações mais freqüentes são aquelas relacionadas a produção do anticorpo IgE, tais como a urticária, o angioedema e anafilaxia. Geralmente essas reações ocorrem imediatamente (alguns minutos) após o uso da penicilina, e devem ser tratadas rapidamente. Outras manifestações menos comuns, mas também relacionadas a anticorpos (só que do tipo IgG), são a anemia hemolítica e as vasculites. Em ambos os casos, os sintomas aparecem mais tardiamente.

Entre as reações causadas por células, a mais comum é o exantema maculo-papular, ou o “grosseirão” no corpo, com vermelhidão e coceira. Esta é uma reação geralmente benigna e que aparece entre 24-48 horas após a ingestão da medicação. No entanto, reações celulares podem ser extremamente graves, como a síndrome de Stevens Johnson, caracterizada por lesões na pele avermelhadas, muitas vezes formando bolhas e acomentendo as mucosas da boca, olhos e genitais, e até órgãos internos como rins e fígado. Estes indivíduos devem ser tratados em UTI e a mortalidade pode chegar a até 15%.

É importante lembrar que as reações causadas pela penicilina não ocorrem no primeiro contato com a medicação, ou seja, a reação vai ocorrer num segundo, terceiro ou posterior tratamento com o fármaco. Além disso, com a evolução dos processos farmacêuticos, hoje dispomos de uma série de antibióticos derivados da penicilina com potencial de reatividade cruzada entre eles, como as cefalosporinas e as aminopenicilinas (ex. Amoxicilina). Por isso, o diagnóstico correto de uma reação a penicilina é importante para a prevenção de reações posteriores com medicamentos semelhantes.

O diagnóstico das reações à penicilina é baseado na história clínica, e confirmado através de testes ou exames laboratoriais. O teste para diagnóstico de alergia a penicilina é um procedimento complexo e de risco, e jamais deve ser realizado nas farmácias antes da aplicação da medicação. Atualmente, sabemos que apenas um teste negativo não é suficiente para dizer que o indivíduo não é alérgico, sendo necessários exames laboratoriais ou até um teste de provocação (ingestão ou aplicação da medicação sob supervisão médica em ambiente hospitalar).

Apesar dos riscos de reação, a penicilina continua sendo um importante medicamento para o tratamento de doenças comuns em nosso meio, como pneumonias, sinusites, amigdalites, abcessos, etc. Por isso, um caso suspeito de alergia a penicilina deve ser sempre investigado. O diagnóstico correto evita que determinados indivíduos sejam rotulados como “alérgicos” a penicilina e deixem de usar uma medicação que muitas vezes é a melhor opção para aquele tipo de doença.



Dr. Luis Felipe Ensina - Alergologista - CRM 86.758








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