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Dr. Moises Chencinski - CRM.: 36.349
Pediatria: da barriga para o mundo, com muita saúde!
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18 de outubro – por que ainda ser médico?

18/10/2014

Em 2014, estou completando 35 anos de exercício da medicina, formado no Curso Experimental da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Durante esse tempo tive a oportunidade de conhecer o serviço público, o particular, fiz plantões em hospitais, trabalhei em serviços de medicina de grupo, atendi planos de saúde em meu consultório, assisti aulas, ministrei aulas, entre outras atividades.

Hoje, nesse meu 35ª Dia do Médico, percebi que ainda, por enquanto, mais ganhei do que perdi, aprendi muito e muito ainda tenho a aprender. Vivi o sofrimento de famílias, pais, crianças e acompanhei seu crescimento, sua evolução. Já tenho pacientes que atendi quando crianças que já me trazem seus filhos, e alguns, poucos ainda, meu Deus, seus netos.

Eu sou feliz porque faço o que eu gosto e gosto do que faço. Mas sinto que minha história seguiu um caminho contrário ao da saúde no Brasil.

Sou pediatra e homeopata, atendendo apenas em consultório, todos os dias, tendo a chance de dedicar o tempo e a atenção que eu julgo necessários para ouvir, acolher, examinar, orientar famílias que me procuram, até por não atender planos de saúde e receber o valor aviltante com o que se remuneram o trabalho médico. Isso reflete obviamente na qualidade do atendimento.

Se eu ganho pouco, mas preciso viver dignamente, preciso atender mais. E mais, diferente do que pensam nossos governantes, não é melhor. Mais atendimentos, para que possamos viver da Medicina, representa menos tempo para viver a angústia e as inseguranças de quem procura em nós uma solução para seu desconforto físico sim, mas, e talvez principalmente, para a dor de sua alma.

Sou pediatra e homeopata que frequenta muitos cursos em busca de atualização e aperfeiçoamento. Participo dos departamentos de Aleitamento Materno da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP) e do de Pediatria Ambulatorial e Cuidados Primários da SPSP, convivendo, trocando experiências e aprendendo com profissionais dos mais renomados e respeitados do Brasil.

Busco sempre orientar meus pacientes e mesmo quem não frequenta meu consultório e muitas vezes nem é de São Paulo, como eu gostaria de ser orientado, de forma ética e respeitosa, tanto em consultas como pela divulgação da informação atualizada, embasada em estudos sérios, através da mídia (rádio, TV, jornais e revistas) e através das redes sociais (site, perfis e páginas no facebook, blogs, matérias e artigos em que tento informar e esclarecer pais ansiosos e angustiados, preocupados com o descaso que sentem em relação aos cuidados médicos com seus filhos).

E só é possível uma dedicação integral ao ato de cuidar de forma digna e ética de nossos pacientes, se pudermos dispor daquilo que a cada dia mais nos tiram: TEMPO.

TEMPO de ouvir, de examinar, de orientar pacientes, de aprender, de ler e conhecer os manuais de condutas mais modernos e atualizados do Brasil e do exterior, de aplicar esses conhecimentos. Observa-se uma imensa falta de preparo e atualização de parte dos profissionais da saúde, demonstrada, por exemplo, através das manifestações das mães nas redes sociais onde escancaram as deficiências do atendimento de seus filhos.

Criança não era um adulto em miniatura. Agora a criança está se transformando em um miniadulto, cheio de responsabilidades, de exigências, de desatenção, de diagnósticos da moda (Alergia à proteína do leite de vaca, intolerância à lactose, refluxo gastroesofágico, déficit de atenção e hiperatividade). Isso sem contar outras patologias que eram exclusividade de adultos, hoje frequentando nossos consultórios pediátricos, cada vez mais precocemente (obesidade infantil, diabetes tipo 2, dislipidemias, hipertensão arterial). Como pode uma criança ser atendida por um clínico geral e não por um pediatra? Criança, mais do que nunca, ainda precisa de pediatra.

A deterioração da imagem do médico através desses 35 anos é nítida. A desvalorização do papel do médico na sociedade, a banalização do ensino médico de qualidade em detrimento de números (acaba de ser autorizada a abertura de 39 novas Faculdades de Medicina espalhadas pelo Brasil, sem nenhuma infraestrutura de hospitais de ensino e de professores) são apenas a ponta do iceberg.

Não sei se a manutenção ou a mudança de governo fará qualquer diferença na nossa situação como profissionais da saúde.

Apesar das dificuldades impostas aos médicos, aos altos custos que são empecilhos, muitas vezes, à nossa boa formação, à atualização e ao nosso exercício correto da profissão, ainda vale a pena investirmos nossa energia na nossa profissão e na melhoria do padrão e da qualidade de vida de nossos pacientes e da população do Brasil.

Nós escolhemos a Medicina e a Medicina nos acolheu. Gosto dessa ideia.

Que esse ano seja o ano em que se busque, cada dia mais, a volta da dignidade, do respeito, do estudo, do conhecimento, do reconhecimento, do TEMPO para sermos os melhores médicos que pudermos ser, com condições de trabalho satisfatórias, com uma remuneração coerente e condizente com a nossa responsabilidade.

Só assim, poderemos exercer nossa arte e aperfeiçoar nossa ciência em prol de quem nos procura e fazer dessa, a geração dos 100 anos. Mas que essas crianças que estão nascendo e vivendo agora sejam a geração dos 100 anos com saúde, respeito, felicidade, com uma vida produtiva, em plena atividade e desempenho de suas funções.

Feliz Dia dos Médicos? Não sei. Um dia não resolve nada.

Que em 2015, possamos estar aqui comemorando a retomada do caminho da saúde, do cuidado, do apoio.
Que em 2015 eu não tenha a menor dúvida de que como responder à pergunta que abriu esse texto: por que ainda ser médico?
Que o leite materno, alimento do corpo e da alma, possa nutrir os corações dos dirigentes desse país e que nos permita promover a saúde para todo o sempre.

Amém.









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