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Prof. Dr. Mauro Fisberg - CRM 28119-SP
Pediatria e Nutrologia
Artigos | Currículo   

Por que e tão difícil tratar a obesidade infantil?

Mauro Fisberg
• Professor Associado, Setor de Medicina do Adolescente, Departamento de Pediatria , Escola Paulista de Medicina- UNIFESP.
• Coordenador Cientifico da Forca Tarefa Estilos de Vida Saudável ILSI Brasil
• Membro da Diretoria do Danone Institute International
• Resumo da aula apresentada no Ganepao 2013 e Preprosim, de 18 a 22 de junho de 2013 no Fecomercio, SP


Normalmente para tratarmos uma doença, precisamos conhecer sua causa, seus motivos, sua fisiopatologia, a historia natural, curso e evolução ao longo do tempo. No entanto, para a obesidade, seguramente conhecemos apenas alguns de seus inúmeros fatores de associação, desencadeantes, mas nem sequer sabemos se trata-se de uma única doença, ou de uma determinada situação clinica final para inúmeros processos causais...

Se ate o diagnóstico é complexo, por que baseia-se em uma combinação de fatores indiretos, em que buscamos uma forma ou um conjunto de medidas, fica extremamente complexo avaliar resultados, especialmente numa fase da vida em que temos de combinar uma das formas de diagnostico que e o ganho de peso constante. Como diferenciar o que e o normal daquilo que beira a doença baseado em um gráfico populacional de crescimento, que já por si só é discutível?

Dizem que o homem pré-histórico era obeso. Baseado no índice de massa corporal (CALCULE SEU IMC CLICANDO) e na possível composição corporal, o homem de Neandertal era um individuo que possuía provavelmente um IMC elevado ( talvez por sua baixa estatura ) e aumento da massa gorda ( e também da magra ), como característica de resistência climática e as condições adversas de vida. Seria o ser humano moderno, uma forma de adaptação? Como considerar que metade da população mundial tenha excesso de peso e isto seja considerada uma doença. Seria possível termos uma pandemia de composição corporal inadequada? Todos iremos morrer dos males da obesidade? Ou talvez estejamos nos preparando para um mundo em que a alimentação e abundante e não precisemos mais gastar tudo que armazenamos?

Mas como negar também o aumento da obesidade estar acompanhado de um aumento das condições metabólicas desfavoráveis como o excesso de pressão arterial, diabetes, desfechos cardiovasculares e circulatórios complexos e precoces, além da crescente epidemia de dislipidemias? Seria causa ou consequência, ou seria uma associação epidêmica espúria em que o enorme numero de afetados contribui para a significância estatística...

Filosofia a parte, temos de considerar que a definição de obesidade infantil seria a de uma doença de herança genética com modificação de acordo com o meio ambiente. E consideramos meio ambiente como o estilo de vida em que vivemos, com modificação do padrão alimentar e diminuição do gasto energético ou no mínimo desbalanceamento entre o ingerido e o gasto.

Para tratar a obesidade temos de imaginar que teríamos de interferir na herança genética... No entanto, se metade da população tem sobrepeso e os números são crescentes, somente uma catástrofe mundial impediria o aumento de novos casos, por que se imagina que o ser humano sobrevive para comer e para o acasalamento ( aqui determinado como sexo )... Modificar o meio ambiente significa mudar o padrão alimentar. Mas se consideramos padrão a repetição de costumes, isto significa modificar o que consideramos como normal. Aumentar a atividade física de uma pessoa e uma coisa mas modificar a atividade física do mundo significa modificar todo o evoluir do que consideramos praticidade, evolucionismo, modernidade. Modificar meio de transporte, apagar de nossas mentes o computador, a televisão, o videogame, o celular, o elevador, a escada rolante, os carros, metros, e tudo que nos facilitou o transporte rápido ( e nem sempre eficaz).

Prevenir o ganho de excesso de quilos na infância não e’ fácil já que implica em avaliar cuidadosamente o crescimento e trabalhar com uma equação complexa em que equilibramos o ganho de peso e estatura, com aumento de massa, puberdade ( em que ganhamos massa gorda e magra ), modificamos o corpo, e ainda estabelecer o que e o adequado na autoestima e no nosso apetite. Se o esperado e o ganho de peso, como prevenir o próprio ganho de peso de forma eficaz que garanta o crescimento, a mudança corporal e ter uma resultante que não temos como prever?

Aumentar a atividade física na infância seria voltar ao obvio. A criança e’ ativa por natureza. Ela se movimenta incessantemente e como adultos tentamos dar um freio a esta atividade ilógica e desenfreada... E se não conseguimos com o apoio da palavra EDUCACAO ( em que tempo?), utilizamos o subterfugio de estabelecer diagnósticos maciços de hiperatividade e medicamos, por que isto sabemos fazer...
Impedir o consumo de alimentos indulgentes e’ outra possibilidade. Tiramos o prazer de nossas crianças e provocamos compulsão posteriormente. Dai’ o claro paradigma, não podemos impedir e sim devemos controlar... Controlar significa dar LIMITES, da mesma forma que educamos... Devemos ter um possível processo de resultantes com aumento da atividade física casual, causal, continua e que caiba em nosso tempo, orçamentos, moradias, redondezas, segurança e outras modernidades.

Comer e’ um ato instintivo... Agora cabe-nos uma modificação do ato de alimentar, gerando comportamentos que impliquem em equilíbrio, com um contador de calorias, com uma pirâmide em nossa cabeça e um rotulo pregado em nossa mente... Não podemos pensar em voltar as origens, por que seguramente comíamos mal ha’ séculos. Passávamos fome na maior parte do mundo, e os que tinham abundancia também morriam cedo ( na indolência ou nos campos de batalha, da guerra ou do trabalho incessante). Não podemos esquecer o prazer, por que diferentemente de animais não somos elementos que comem para sobreviver. Temos direito a escolher a gazela, a zebra, o búfalo, ou o animal que estiver disponível? Nem o leão se da’ a este luxo, mesmo que lhe apeteça esta ou outra carne...Queremos o pratico, o rápido, o acessível, barato e o mais gostoso. E se possível que seja também saudável... Queremos o milagre da multiplicação dos peixes, mas não queremos o do pão, por que engorda. Não podemos esquecer do vinho, mas não podemos permitir que nossas crianças bebam bebidas alcoólicas. Resta-nos o suco mas este contem açúcar, como seguramente a maçã também contem, e esta nos levou para longe do paraíso...

Terminamos com duas formas de tratamento complexas. Inicialmente o medicamento. Tratar o que? Peso? Alteração metabólica, síndromes ou doenças isoladas? Compulsão ou fome excessiva? Tratamos a hipertensão ou aumentamos a atividade física? Diminuímos o sal e trocamos por outros temperos ou damos anti-hipertensivos? Tratamos com redutores de apetite ou tentamos controla-lo com menor exposição a alimentos? Mas como tratar a obesidade se sequer estamos certos de que e uma única doença? Resta-nos a cirurgia bariátrica. Por sorte, este e um assunto somente possível de ser avaliado para os maiores de dezesseis anos e eu resolvi que nesta divagação iria me referir somente ao tratamento da criança e do adolescente precoce...

Portanto, chego a conclusão como inúmeros autores que me precederam, que em todas as series de tratamento clinico para crianças e adolescentes, o índice de sucesso em cinco anos e de resolução do problema em menos de 30%. Mas como determinar que foi o tratamento ou foi o próprio crescimento que determinou o processo de pseudoçura? E quem me garante que o adolescente que conseguiu perder peso a um custo gigantesco não será o adulto jovem que ao parar a atividade física maníaca dos tempos jovens, será o obeso mórbido? Ou que a criança que nasceu pequena e foi superalimentada, ao engravidar, não ganhe muito mais peso do que o esperado e mantenha um superávit de quilos apos o parto e a amamentação...

Parece que sou um pessimista. Mas não cabe a nós professores fazer perguntas e abrir a discussão? Não ha’ verdades fixas na ciência... e muito menos no tratamento de doenças ( de qual doença estamos mesmo falando?)









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