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19/08/2007
Transtornos alimentares: onde estão as raízes destas doenças?

Os transtornos alimentares estão entre as dez maiores causas de incapacitação entre mulheres jovens, segundo revelou um estudo australiano que avaliou o impacto das doenças e seus fatores de risco sobre a vida das pessoas (Mathers, Vos, Stevenson, & Begg, Medical Journal of Australia 2000).

“Apesar da dimensão do problema, ainda é difícil fazer o diagnóstico acurado das várias formas do comer patológico. Mais difícil ainda é ‘classificar as pacientes’ que apresentam um ou outro distúrbio alimentar, pois muitas delas apresentam sintomas que ora lembram anorexia, ora bulimia, o que causa dificuldades para que a equipe multidisciplinar de atendimento a esses pacientes faça uma distinção clara entre esses transtornos. Muitos casos de transtornos alimentares não obedecem aos critérios diagnósticos das formas clássicas destas patologias, mas já apresentam desvios da normalidade do hábito de comer”, afirma a endocrinologista Ellen Simone Paiva (CRM - SP 51.988), diretora do Centro Integrado de Terapia Nutricional, Citen.

Segundo a médica, é importante esclarecer que os transtornos alimentares, apesar de ainda não terem causas definidas não surgem voluntariamente. Nos casos mais graves, diz Ellen Paiva, como o da anorexia nervosa, “ouvimos repetidamente das pacientes que elas não se interessam em ‘parecer’ modelos e que se sentem verdadeiramente muito gordas. Isso nos leva a crer que outros fatores, e não apenas os estereótipos de beleza, estão envolvidos na gênese dos transtornos alimentares. Esta origem multifatorial deve ser esclarecida para facilitar o diagnóstico e o tratamento destas doenças”.

Fatores sócio-culturais

Vivemos em uma sociedade que super valoriza a magreza. As pressões sociais para que as pessoas, principalmente as mulheres, se enquadrem num modelo X ou Y de beleza geram preocupações extremadas com a imagem corporal. “Essa preocupação constante com o peso pode ser muito prejudicial, especialmente, se levarmos em conta a fragilidade das crianças e a vulnerabilidade dos adolescentes que crescem compartilhando as dificuldades dos adultos, principalmente de suas mães, em manter um peso corporal adequado aos padrões sócio-culturais”, afirma Ellen Paiva.

A exposição a esses padrões ‘tão rigorosos’ da sociedade moderna, a internalização do ideal de magreza e a insatisfação gerada pela imagem corporal real em relação àquela idealizada pode levar a padrões comportamentais alimentares com restrições extremas, o que propicia o aparecimento da compulsão alimentar e da purgação. “Muitos trabalhos científicos têm mostrado a maior incidência de transtornos alimentares entre meninas, após dietas muito restritas, revelando a grande influência destas dietas nos comportamentos alimentares anormais”, explica a endocrinologista.

Apesar das influências desses padrões culturais serem generalizadas, somente algumas mulheres desenvolvem os transtornos alimentares e isso provavelmente está ligado a outros fatores que podem aumentar a susceptibilidade à doença, como: pressões sociais (exposição à mídia, pressão e constrangimentos entre pares, exigência de algumas profissões), personalidades perfeccionistas e ansiosas, impulsividade, sobrepeso ou obesidade, que fazem com que o paciente ‘se enquadre’ num padrão de peso muito diferente do ideal.

A anorexia nervosa tem a mais alta taxa de mortalidade dentre todas as doenças mentais, segundo dados publicados por vários autores (Millar, American Journal of Psychiatry 2005; Sullivan, 1995; Zipfel, Lowe, Reas, Deter e Herzog, Lancet 2000).

Homens com transtornos alimentares

Os levantamentos mundiais sobre transtornos alimentares revelam uma prevalência significativamente maior destas doenças no sexo feminino, principalmente no que se refere à anorexia nervosa e à bulimia. “Quando observamos os transtornos alimentares relacionados às demais Síndromes Compulsivas, o quadro muda muito, pois passamos a encontrar uma estatística que revela uma alta incidência do problema no sexo masculino”, afirma Ellen Paiva.

Segundo a diretora do Citen, este quadro pode ainda ser subestimado pela relativa dificuldade de se obter relatos verdadeiros sobre a presença dos transtornos alimentares nos homens, principalmente o da ocorrência de episódios purgativos. “Eles geralmente usam diferentes métodos compensatórios, como exercícios físicos intensos e o uso de laxantes. E depois, alegam que o objetivo deste comportamento é tentar aumentar a massa muscular ou perder peso”, explica a médica.

Fatores genéticos

Se todas as garotas são expostas às mesmas pressões sócio-culturais, por que apenas algumas delas desenvolvem a anorexia ou a bulimia?

As pesquisas no campo genético estão bem posicionadas para identificar e explicar as diferentes evoluções de cada grupo exposto ao risco. “Essa explicação relaciona as influências comportamentais às predisposições genéticas. Por exemplo: uma pessoa com um determinado gene reage com desconforto e intolerância a uma dieta restritiva, rejeitando a continuidade da mesma por não se sentir bem. Outra, com um gene diferente, reage à mesma restrição dietética de modo favorável, com sensação de controle da situação e do peso corporal e com redução da ansiedade por se sentir socialmente adequada”, explica a endocrinologista.

Em 2006, foi publicado um estudo denominado Prevalência, Hereditariedade e Fatores de Risco para a Anorexia Nervosa (Bulik e colaboradores) baseado na incidência de anorexia nervosa em 31.406 gêmeos. A pesquisa revelou hereditariedade em 56% dos casos. “Destaca-se ainda outro trabalho onde os dados relativos aos vômitos auto-induzidos, mostraram-se ainda mais susceptíveis à hereditariedade, ocorrendo em 73% dos irmãos gêmeos de uma pessoa que provoca vômitos (Reichborn-Kjennerud em 2003)”, diz a médica. Resultados semelhantes já foram demonstrados em relação à bulimia nervosa e à Síndrome do Comer Compulsivo, associando definitivamente esses transtornos alimentares à susceptibilidade genética.

As “dietas da moda”

A exposição de meninas susceptíveis aos transtornos alimentares às “dietas da moda” está claramente relacionada ao desenvolvimento de casos do comer patológico. “Isso provavelmente se relaciona ao fato dessas dietas apresentarem em comum grande restrição calórica, monotonia de refeições e perdas de peso fantasiosas, a curto prazo”, afirma Amanda Epifanio (CRN - 3: 17153), nutricionista que integra o corpo clínico do Citen. Todas essas características transformam essas dietas em preâmbulos do jejum prolongado, e esse é o caminho mais curto para os episódios compulsivos, os vômitos e as várias outras atitudes purgativas que caracterizam a bulimia, explica a nutricionista.

Estudos científicos relacionam dietas restritivas aos transtornos alimentares, principalmente nos casos de Síndrome do Comer Compulsivo e de bulimia nervosa. Uma pesquisa realizada por Patton e colaboradores, publicada em 1999, no British Medical Journal, com adolescentes australianas, entre 14 e 15 anos de idade, revelou que meninas submetidas a dietas restritivas apresentaram uma propensão 18 vezes maior a desenvolver a síndrome bulímica do que aquelas que se alimentavam normalmente.

Preconceito e banalização

O contexto cultural da sociedade moderna simplifica os transtornos alimentares, caracterizando-os como reações histéricas e voluntárias de vaidade ou como uma busca desenfreada por um ideal de beleza. “Esse grande equívoco dificulta as pesquisas científicas que podem esclarecer a raiz destes problemas, banaliza a gravidade destas doenças e compromete o convívio social destas pacientes. Elas simplesmente sonegam informações importantes, que podem salvar suas vidas, uma vez que os transtornos alimentares têm taxas de morbidade e mortalidade nada desprezíveis”, afirma a endocrinologista Ellen Paiva.

SERVIÇO:
CITEN - Centro Integrado de Terapia Nutricional
Endereço: Rua Vergueiro, 2564. Conjuntos 63 e 64 - Vila Mariana
São Paulo-SP
Atendimento: De segunda a sexta.
Horário: 08h30min às 18h30min horas.
Telefone: (11) 5579 1561/5904 3273.

Veja mais sobre o assunto em nossa coluna Por Dentro do Alimento com a Nutricionista Nicole Valente





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