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10 dúvidas sobre a endometriose

Durante a 23ª Conferência Anual da Sociedade Européia de Reprodução Humana e Embriologia, evento realizado entre os dias 01° e 04 de julho, na cidade de Lyon, na França, pesquisadores suecos apresentaram um estudo onde a endometriose foi associada pela primeira vez ao aparecimento de diversos tipos de cânceres, especialmente o de ovário.

A endometriose ocorre quando o endométrio, ou seja, o tecido que reveste a cavidade uterina, implanta-se fora do útero. Cogita-se que quando a mulher menstrua - e a menstruação nada mais é do que a eliminação do endométrio - fragmentos desse tecido podem caminhar pelas tubas, alcançar a cavidade abdominal, nela implantar-se e crescer sob a ação dos hormônios femininos.

Hoje, sabemos que mulheres sem a doença também podem apresentar essa menstruação retrógada, isto é, a que faculta a chegada do endométrio na cavidade abdominal, mas só algumas desenvolvem a endometriose. “Podemos concluir, então, que alguns fatores permitem a instalação dos implantes na cavidade peritoneal, entre eles, destaca-se o sistema imunológico da mulher. É possível encontrar células do endométrio lá dentro, em casos de pacientes com endometriose assintomática.”, explica o especialista em Reprodução Humana, Joji Ueno (CRM-SP 48.486)..

A doença é tema recorrente entre as mulheres porque além de causar dor durante a relação sexual, alterações intestinais durante a menstruação - como diarréia ou dor para evacuar - também está associada às dificuldades para engravidar após um ano de tentativas sem sucesso. Como as cólicas menstruais são ocorrências habituais na vida da mulher, o médico recomenda que a investigação das causas da cólica deve ser feita “quando estas apresentarem resistência a melhorar com remédios ou quando elas incapacitam a mulher para exercer suas atividades normalmente. Pois, cólica intensa é o principal sintoma de endometriose e leva à suspeita de que a doença esteja instalada”, diz Joji Ueno. A seguir, o médico esclarece as principais dúvidas femininas sobre a endometriose:

1) Quais os principais sintomas apresentados pela mulher que sofre com a endometriose?

Joji Ueno - A grande maioria têm dismenorréia, ou seja, cólica menstrual, o primeiro e mais importante sintoma. Muitas vezes, são cólicas intensas que incapacitam as mulheres de exercerem suas atividades habituais. A dor pode ainda manifestar-se durante a relação sexual, quando o pênis encosta no fundo da vagina. Este é o segundo sintoma. Além desses sintomas, podem estar presentes a dificuldade para engravidar e alterações intestinais ou urinárias durante a menstruação. Nos casos mais avançados, a dor pode ocorrer também fora do período menstrual.

2) Muitas mulheres têm cólicas no período pré-menstrual. Como elas podem diferenciar “uma cólica normal” nesse período da cólica característica da endometriose?

Joji Ueno - Na verdade, não existe uma diferenciação muito clara porque há pacientes com endometriose e poucas cólicas durante a menstruação. Entretanto, o raciocínio é sempre orientar as mulheres a procurarem um médico quando tiverem cólicas com certa resistência a melhorar com remédios ou que as incapacite de exercer suas atividades normalmente. Cólica intensa é o principal sintoma de endometriose e leva à suspeita de que a doença esteja instalada.

3) Os sintomas da presença da endometriose são frustros e, às vezes, podem confundir as mulheres, conseqüentemente, uma parcela significativa da população feminina pode demorar muito para ter a doença diagnosticada, é verdade?

Joji Ueno – Sim. A doença pode acometer mulheres a partir da primeira até a última menstruação, com média de diagnóstico por volta dos 30 anos. Em média, a mulher tem 32 anos quando é feito o diagnóstico da doença. Em 44% dos casos passaram-se cinco anos ou mais até a doença ser diagnosticada. De 40% a 50% das adolescentes que apresentam cólica incapacitante, quer dizer, dor intensa que requer repouso e as impede de exercer as atividades normais podem apresentar endometriose sem saber. A investigação clínica, a anamnese bem feita seguida de um exame físico adequado, o toque vaginal que permite verificar alguns aspectos característicos da doença, tudo isso faz parte do exame ginecológico normal e de rotina que não visa ao diagnóstico da doença em si, mas que pode funcionar como prevenção primária para a endometriose. O exame ginecológico é o ponto de partida para estabelecer o diagnóstico da endometriose. Se a doença se assesta no ovário, o ginecologista pode perceber o aumento dos ovários pelo toque. Se acomete a região que fica entre o útero e o intestino, um tipo de endometriose que se chama endometriose profunda, o toque permite perceber espessamentos atrás do útero e dor quando o médico apalpa essa região. Quando a doença acomete o peritônio (tecido que reveste a cavidade abdominal) fica mais difícil estabelecer o diagnóstico pelo toque.

4) A doença apresenta fatores hereditários, ou seja, uma mulher cuja mãe teve endometriose corre maior risco de apresentar a doença?

Joji Ueno - Alguns estudos apontam que existe um fator hereditário que deve ser levado em conta nos casos de endometriose. Entretanto, outros fatores de risco devem sempre ser levados em conta, tais como a menstruação retrógrada, que leva o endométrio para a cavidade abdominal e a imunidade feminina, que permite que ele se desenvolva e a doença ali se implante. Várias questões relacionadas à imunidade da paciente devem ser levadas em conta. Uma delas, hoje muito popularizada, é que o fator estresse esteja associado ao problema. Sabe-se que mulheres com endometriose têm traços maiores de ansiedade e estresse. Portanto, o estresse é um fator de risco assim como as condições ambientais, que têm sido muito mencionadas ultimamente. Isso vale para o câncer e vale para a endometriose. Por fim, deve-se considerar também o número de menstruações. Hoje, a mulher menstrua em média 400 vezes na vida, enquanto no começo do século passado menstruava apenas 40 vezes, porque a primeira menstruação ocorria mais tarde, ela engravidava mais cedo, tinha mais filhos e passava longos períodos amamentando.

5) Muitas mulheres temem que a endometriose possa virar câncer, porque o mecanismo das duas é até certo ponto semelhante. Há alguma relação comprovada entre a endometriose e o aparecimento do câncer?

Joji Ueno - O mecanismo das duas doenças tem muitas similaridades. Sabe-se, porém, que a relação entre endometriose e câncer é muito pequena, em torno de 0,5% a 1% dos casos. Na verdade, apesar de não caracterizar uma doença maligna, a endometriose se comporta de modo parecido, no sentido de que as células crescem fora de seu lugar habitual. Embora, na maioria das vezes, esse crescimento não tenha conseqüências letais, acaba provocando muitos incômodos. Por isso, tornou-se foco de atenção dos profissionais que lidam especificamente com essa doença. Durante a 23ª Conferência Anual da Sociedade Européia de Reprodução Humana e Embriologia, evento realizado entre os dias 01° e 04 de julho, na cidade de Lyon, na França, pesquisadores suecos apresentaram um estudo onde a endometriose foi associada pela primeira vez ao aparecimento de diversos tipos de cânceres, especialmente o de ovário. Especialistas do Hospital da Universidade de Karolinska em Estocolmo, Suécia, analisaram os dados de 63.630 mulheres, que tinham sido atendidas pelo Hospital, com o diagnóstico de endometriose, entre 1969 e 2002. Os cientistas encontraram 3.822 casos de câncer entre mulheres com endometriose. Segundo o trabalho, a doença aumentou o risco da mulher desenvolver o câncer de ovário em 37% do grupo analisado, risco de um terço acima da população normal das mulheres sem a doença. Também foram registrados aumento no número de casos de tumores endocrinológicos (38%), de câncer renal (36%) e de câncer da tireóide (33%). Os pesquisadores investigarão, ainda, se o tratamento hormonal ou cirúrgico da endometriose tem relação com o risco aumentado do câncer.

6) Há casos de endometriose com sintomas bem discretos enquanto outros são bem mais graves. Como podemos classificar a doença?

Joji Ueno - A classificação da endometriose leva em conta a extensão da doença. A mais aceita foi elaborada por uma sociedade americana e parte do procedimento de visualização das lesões, o passo seguinte depois do diagnóstico. O exame clínico, o marcador e exame de ultra-som são os meios adequados para definir as mulheres para as quais se deve indicar a laparoscopia, um exame realizado sob anestesia através de pequenas incisões no abdômen por onde se introduz um tubo ótico de aproximadamente 10mm de diâmetro para visualizar as áreas da cavidade abdominal em que se fixaram os implantes - nome que se dá ao tecido endometrial deslocado. É um procedimento cirúrgico menor que permite identificar tamanho, extensão e local de acometimento das lesões e iniciar imediatamente o tratamento adequado.

7) Então, a laparoscopia é, ao mesmo tempo, um teste de diagnóstico que avalia a extensão da doença e uma forma de iniciar o tratamento da endometriose?

Joji Ueno - Depois que se faz uma análise da cavidade abdominal, dos pontos com comprometimento pela doença, procura-se ressecar sempre que possível os focos que se encontram nos ovários, trompas, útero, peritônio e intestino. Em relação aos cistos no ovário e no útero, a preocupação é retirá-los, mas preservando esses órgãos, uma vez que na maioria das vezes as pacientes são jovens e têm desejo reprodutivo. Através da laparoscopia conseguimos ressecar também os focos existentes no tecido que reveste a cavidade abdominal (peritônio) e outros mais profundos localizados nos intestinos, indicativos de casos mais graves e que demandam tratamento efetivo. Obviamente, a cirurgia aberta é também uma alternativa para remover as lesões de endometriose, mas a laparoscopia é o método mais utilizado para diagnóstico e tratamento dessa doença.

8) E em que casos a cirurgia convencional é indicada?

Joji Ueno – A cirurgia convencional tem se tornado um procedimento cada vez menos freqüente. Com a laparoscopia, é possível realizar a quase totalidade dos procedimentos que eram feitos por via aberta. No entanto, casos em que existem aderências ou sangramentos importantes obrigam abrir a realização da cirurgia. Por isso, toda vez que o médico indica a realização da laparoscopia é prudente explicar para a paciente que, em algumas situações, é preciso realizar uma cirurgia convencional.

9) A endometriose provoca alterações no ciclo menstrual, estas alterações podem causar a infertilidade feminina?

Joji Ueno – A relação entre a endometriose e a infertilidade feminina pode manifestar-se em alguns casos. Pacientes em estágio avançado da doença e obstrução na tuba uterina que impeça o óvulo de chegar ao espermatozóide têm um fator anatômico que justifica a infertilidade. Além disso, algumas questões hormonais e imunológicas podem ser a causa para algumas mulheres com quadros mais leves de endometriose não conseguirem engravidar. Após o tratamento, geralmente após a realização da laparoscopia, uma boa parcela das pacientes consegue engravidar, principalmente as mulheres em que as tubas não tiverem sofrido obstrução. É por isso que no final da laparoscopia, costuma-se injetar contraste pelo canal do colo uterino para ver se ele sai pelas tubas. A caracterização dessa permeabilidade tubária é um ponto a favor de uma gravidez que depende, entretanto, de outros fatores como a função ovariana ou a não formação de aderências depois da cirurgia, por exemplo.

10) Após a realização de uma laparoscopia bem sucedida, onde o médico consegue retirar todas as lesões da cavidade abdominal, há riscos de reincidência da doença?

Joji Ueno - Depois da laparoscopia, quando a doença está num estágio avançado, costuma-se indicar uma medicação para suprimir temporariamente a menstruação. São geralmente medicamentos que bloqueiam a função ovariana, durante três ou quatro meses, para a paciente poder se recuperar. Depois disso, a possibilidade da doença voltar existe, porque o retorno da função menstrual pode determinar o reaparecimento das lesões. Por isso, em alguns casos, é preciso bloquear a menstruação por mais tempo e tomar cuidado depois das gestações para que não haja recidivas. A cura da endometriose depende da boa administração da doença e nem sempre representa a extirpação eterna dos focos porque, em alguns casos, podem voltar.

SERVIÇO:

Clínica GERA
Rua Peixoto de Gomide, 515 - Conjuntos 11 e 12
Atendimento: de segunda a sexta-feira
Telefone: (11) 3266 7974
Homepage: www.gerasp.com.br
E-mail: gera@gerasp.com.br

Veja mais sobre o assunto em nossa colunas de Saúde Feminina, com Prof. Dr. Mauricio Simões Abrão




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