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A verdade sobre a sacarina

Por Adriana Alvarenga*

Dados de um estudo experimental que ministrou sacarina em ratos, fartamente divulgados recentemente, deixaram o consumidor de adoçantes em alerta. O estudo indicava que a sacarina, componente de inúmeros adoçantes disponíveis no mercado, foi responsável por um ganho de peso no grupo de animais que a consumiram, enquanto o inverso foi observado no grupo que recebeu a glicose.

Cabe esclarecer que o correto seria dizer que o estudo demonstra relações entre o sabor doce e alterações da compensação calórica que usualmente acontece em nosso organismo após as refeições. E também, que o estudo usou a sacarina, mas poderia ter sido conduzido com qualquer outro edulcorante artificial.

No entanto, uma breve análise do estudo permite perceber que ele foi feito de forma criteriosa, mas deixou de considerar parâmetros importantes quando se fala em obesidade.

O primeiro deles, é que levou muito em conta o padrão de consumo dos adultos americanos, demonstrando que houve um aumento de 70 para 160 milhões de consumidores de alimentos contendo adoçantes e adotando a linha “zero açúcar”. Nesse mesmo período, segundo o autor, a incidência de obesidade nos Estados unidos aumentou de 15 para 30%.

Atualmente, os americanos são a população que possui um dos piores padrões de consumo alimentar. O consumo de frutas, legumes e hortaliças é mínimo, e há um aumento muito grande do consumo de gordura. Também têm uma alimentação pobre em fibras, que por diferentes mecanismos, levam à saciedade precoce, enquanto baixos níveis de consumo contribuem para o aumento do consumo calórico. Estudos epidemiológicos mostram que a obesidade é maior na população que consome menos fibras. Assim, nesse caso, culpar apenas os edulcorantes pelo aumento do consumo calórico entre humanos é, no mínimo, inadequado.

O segundo, e não menos importante parâmetro,diz respeito à dosagem de sacarina, de 0,3%, enquanto a glicose foi 20%. Não houve explicação sobre como chegaram a essa dosagem e nem houve comentário se a dosagem estabelecida gerou um produto mais ou menos doce que o usual. Isso seria importante saber, afinal a sacarina possui um poder adoçante 200 a 700 vezes mais doce do que o açúcar, e na glicose esse poder é muito menor.

Além disso, quando observado os níveis de sacarina permitidos pela legislação, percebe-se uma diferença muito grande entre esta e os níveis do estudo. Enquanto o estudo utilizou 0,3% de sacarina, a legislação permite 0,03% no produto. A recomendação de consumo de sacarina em humanos é de 5mg/kg/dia. Se extrapolarmos esse valor para os ratos, um rato pesando em média 400g, como descrito no estudo, deveria consumir apenas 2mg de sacarina por dia. Como os ratos consumiram 30g de iogurte a 0,3% de sacarina, seu consumo diário desse componente foi de 0,09g ou 90 mg, valor muito acima do recomendado (45 vezes mais alto). É difícil avaliar se essa diferença pode ter interferido nos resultados, mas é relevante.

Em terceiro lugar, o estudo foi de curto período – 2 semanas –, o que também pode prejudicar a melhor avaliação/interpretação dos resultados. Para maior certeza e conclusão em relação a qualquer estudo, é necessário um número considerável de estudos em humanos e, principalmente, que sejam estudos epidemiológicos, feitos com um maior número de pessoas, durante longo período de tempo, o que não ocorreu neste caso.

Fora os mencionados parâmetros, o próprio autor do estudo comentou que os resultados encontrados nos ratos de laboratório não podem ser generalizados e extrapolados diretamente aos humanos, porque estes possuem padrões de comportamento muito mais complexos, especialmente no que diz respeito a hábitos alimentares. Portanto, os resultados podem e devem ser questionados.

Vale lembrar ainda, que os edulcorantes são utilizados especialmente pelos pacientes diabéticos, que necessitam desse tipo de componente no seu dia a dia. Portanto, há a necessidade de estudos mais conclusivos para se evitar riscos a essa população. E ainda, que o consumo excessivo de açúcar é associado à presença de doenças crônicas como diabetes e cardiovasculares, sendo recomendável a redução de consumo.

Por fim, um aviso importante. A base do controle de peso, durante toda a vida, é o equilíbrio na ingestão e no gasto de energia. Por isso, um padrão de alimentação saudável, mais a inclusão de atividades físicas continuam sendo os principais aliados para um peso saudável. O adoçante é um coadjuvante nas dietas alimentares, onde excessos e mudanças radicais não levam a um equilíbrio no peso corporal.

*É nutricionista da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos para Fins Especiais e Congêneres (ABIAD)




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