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04/06/2007
Doença celíaca: quando a dieta é o único tratamento

O tratamento da doença celíaca parece simples, “seguir a dieta”, mas não é... Quando não se consegue abolir o glúten, a saúde se debilita progressivamente e dá lugar à desnutrição crônica e às suas conseqüências.

O glúten é uma proteína que está presente no trigo, na aveia, no centeio, na cevada, no malte e seus derivados. Integram o abundante grupo de alimentos e bebidas que “contêm glúten” os pães, as massas, a cerveja, o uísque, o ovomaltine e uma infinidade de produtos industrializados... Mas, para os portadores da doença celíaca, todos estes alimentos e bebidas estão proibidos. A legislação brasileira mais recente a esse respeito é de 2003, e determina que qualquer produto alimentício deve exibir na embalagem a indicação "contém glúten" ou "não contém glúten".

A doença celíaca

Essa doença vem desafiando o conhecimento científico há muito tempo devido à sua apresentação clínica variada, que abrange desde sintomas leves e pouco específicos - como uma criança que não ganha peso - até uma síndrome clássica de má absorção intestinal em um paciente desnutrido. “Como se não bastasse tamanha variedade clínica, há ainda os casos completamente assintomáticos, que causam enorme polêmica a cerca dos reais benefícios de uma dieta sem glúten”, afirma a nutróloga, Ellen Simone Paiva, diretora do Centro Integrado de Terapia Nutricional, Citen.

Trata-se de uma doença de causa ainda indefinida, mas com influências genéticas, dietéticas, imunológicas e hereditárias bem definidas. Sabe-se que a doença é desencadeada por intolerância do organismo às proteínas do glúten que causam lesões à parede intestinal e, que, em última análise provocam uma dificuldade na absorção dos alimentos. As paredes internas do intestino delgado possuem vilosidades que são como "braços", responsáveis pela absorção de macronutrientes como proteínas, carboidratos e gorduras, e micronutrientes, como vitaminas, ferro, cálcio, dentre outros. Quando uma pessoa com doença celíaca ingere alimentos com glúten, essa proteína, ao chegar no intestino, estimula a produção de anticorpos, principalmente as imunoglobulinas do tipo IgA. Os anticorpos atuam sobre as vilosidades do intestino que se atrofiam e vão deixando de desempenhar a sua função de captar os macro e micronutrientes. “Como resultado, os nutrientes não absorvidos são eliminados com as fezes e o organismo fica privado de seus nutrientes básicos, tornando-se desnutrido com o passar do tempo”, diz a médica.

A prevalência da doença celíaca na população, em geral, é de 1%, mas é muito maior em pacientes com doenças auto-imunes como o diabetes insulino-dependente, a tireoidite de Hashimoto, a artrite reumatóide juvenil e a hepatite auto-imune. Também é mais prevalente nos pacientes com Síndrome de Down e nos que apresentam doenças inflamatórias intestinais. Esses achados indicam a validade de testes laboratoriais mais específicos na investigação da doença celíaca nesses grupos de pacientes.

A doença geralmente manifesta-se na infância, entre o primeiro e o terceiro anos de vida, quando há a introdução de cereais na dieta, embora possa surgir também na idade adulta. “Hoje, o que é possível afirmar é que alguns fatores predispõem uma pessoa a tornar-se celíaca. O primeiro deles é a herança genética. A incidência em parentes de primeiro grau é de 30% e a patologia tem uma incidência duas vezes maior nas mulheres do que os homens”, informa Ellen Paiva.

Sintomas da doença

O glúten pode desencadear uma série de reações e problemas no organismo das pessoas portadoras da doença celíaca. A quantidade de glúten ingerida para causar sintomas que variam de paciente para paciente. O mais prevalente é a diarréia crônica, que ocorre em cerca de 70% dos casos diagnosticados. Trata-se de diarréia intermitente, de 3-4 vezes ao dia, com características clássicas de má absorção como fezes em grande volume, aspecto espumoso, odor desagradável, aparência oleosa e uma tendência a flutuar. É comum a associação com dor abdominal do tipo cólica e distensão secundária à fermentação de lactose.

Algum grau de perda de peso é comum, mas sua intensidade depende da falta de apetite associada e da má absorção dos alimentos. “É freqüente também a anemia por deficiência de ferro e ácido fólico, além de múltiplas deficiências nutricionais, que colaboram para os 70% de incidência de redução da massa mineral óssea nesses pacientes”, alerta a diretora do Citen.

Como os sintomas da doença celíaca não são específicos, algumas vezes, o paciente nem desconfia que tem o problema e passa anos enfrentando enfermidades e incômodos que poderiam ser evitados com o diagnóstico e o tratamento adequados. Problemas crônicos, sem explicação aparente, que não respondem aos tratamentos também podem estar relacionados com a doença celíaca, tais como infertilidade feminina, abortos espontâneos de repetição, hepatite crônica, alterações de humor, apatia e até distúrbios neurológicos.

Diversos tipos de cânceres têm sido associados à doença celíaca. O mais citado deles é o linfoma do intestino delgado, mas também o câncer de esôfago e faringe. Os pacientes que seguem as orientações dietéticas têm menor incidência desses cânceres, fazendo crer que o glúten ou as lesões imunológicas secundárias à intolerância alimentar podem participar como fatores desencadeantes das lesões malignas.

O diagnóstico da doença celíaca é baseado em testes sorológicos específicos e confirmado pela biópsia de intestino. É importante lembrar que essa doença vem sendo progressivamente mais diagnosticada em pacientes com sintomas inespecíficos ou assintomáticos, gerando a polêmica sobre os reais benefícios da restrição do glúten nesses últimos.

O único tratamento: a dieta

O principal tratamento disponível para a doença celíaca é retirar o glúten da dieta. Após um ano de restrição da proteína do glúten da dieta, as vilosidades e a mucosa intestinal se normalizam. “Em poucos dias, entretanto, os sintomas desaparecem”, informa a nutricionista Amanda Epifanio Pereira, que integra o corpo clínico do Citen. Mesmo assim, o diagnóstico deve ser confirmado através de biópsia do intestino delgado e somente esse procedimento pode fornecer o embasamento científico que justifique iniciar uma dieta isenta de glúten.

Na verdade, o prejudicial e tóxico ao intestino do paciente intolerante ao glúten são "partes do glúten", que recebem nomes diferentes em cada cereal. No trigo é a gliadina, na cevada é a hordeína, na aveia é a avenina e no centeio é a secalina. O malte, por ser um produto da fermentação da cevada, apresenta também uma fração de glúten. Os produtos que contenham malte, xarope de malte ou extrato de malte não devem ser consumidos pelos celíacos.

O tratamento da doença celíaca parece simples, “seguir a dieta”, mas não é. É difícil conseguir a adesão de pacientes jovens, como crianças e adolescentes. E se a dieta não for seguida, com o corte completo do glúten, a doença vai se tornando crônica e outras doenças vão surgindo. Logo, esse paciente tem comprometimento sistêmico e requer a assistência de uma equipe multidisciplinar.

“Para conseguir a adesão do paciente ao tratamento e tornar a dieta mais tolerável, é preciso substituir os alimentos que contenham glúten por opções que agradem ao paciente”, informa a nutricionista. Entram neste rol os derivados do milho - amido de milho, farinha de milho, fubá - os derivados do arroz, como a farinha de arroz - os derivados da batata, tal qual a fécula de batata. "No Brasil, temos a mandioca, muito apreciada pela população, da qual podemos obter farinha, polvilho azedo, polvilho doce e tapioca", diz Amanda.

Segundo a nutricionista, é preciso explicar à família e ao paciente que o glúten não desaparece quando os alimentos são assados ou cozidos, “por isto a dieta prescrita deve ser seguida à risca”, avisa. Na falta de produtos industrializados especiais sem glúten, a maior parte do cardápio do paciente celíaco deve ser caseira, “o que demanda tempo e dedicação dos pais na busca e no preparo de novas receitas”, informa a especialista em Nutrição.










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